16.5.04

Dia 16 - Feijão

Eu associo feijão com segurança e isso não é de hoje.

Tudo começou lá pelos 4 anos de idade. Ainda me lembro daqueles almoços, eu sentada sozinha na mesa, olhando pro prato de comida sem conseguir comer. Eu não sabia por que, só sabia que não conseguia comer.

A comida ficando fria e eu ali, olhando pro prato cheio. Minha tia então me dizia: "Lalinha, come três colheradas. Só mais três colheradas."

Era a minha deixa. Eu colocava as três colheradas na boca, saia da mesa e cuspia tudo no lixo. Isso acontecia todos os dias.

Descobriu-se enfim que eu tinha um problema na garganta e isso gerava dificuldades para engolir. Passaram a me dar massa com caldo de feijão e miraculosamente eu podia comer. Oh, que alegria. O meu vínculo eterno com o feijão havia se formado.

20 anos depois, descobri que tinha intolerância a lactose. Fiquei sabendo que precisava cortar leite e todos os seus derivados. Não achei que fosse ser difícil, mas foi. E como foi. Naquela época minha alimentação era basicamente laticínios, uma vez que eu era vegetariana.

Passei os primeiros meses faminta. Não sabia o que comer. Uma dieta vegana, sem carne e sem leite, é algo complicado, principalmente no Rio Grande do Sul. Agravando meu problema, raramente tinha tempo para comer em casa, então precisava me virar pelos restaurantes da vida.

E como eu sofria. Enchia os olhos de lágrimas quando chegava em um restaurante e via que não tinha comida pra mim. O primeiro que tive que abandonar foi o Ocidente, meu favorito na época. Outros tantos seguiram o mesmo caminho.

Me sentia indefesa, me sentia abandonada, me sentia assustada. Então ele veio em meu socorro. O feijão. Sim, novamente o feijão. Se ao passar os olhos pelos pratos eu encontrasse feijão, meus olhos sorriam porque eu sabia que estaria bem alimentada.

Declaro aqui minha gratidão incomensurável para com este grão magnífico. Oh, feijão, não me falte jamais.