30.8.03

Shunyata

Fui apresentada ao conceito budista de Shunyata pelo meu caríssimo amigo Mini. De princípio fiquei meio perplexa, uma coisa meio "como, a terra não é chata? tu tá me dizendo que a terra é redonda? não, não, não pode ser".

Me parecia que certas coisas apenas eram o que eram. E ponto. Um pouco mais de conversa e as coisas nunca mais pareceriam a mesma coisa. Não, as coisas não são coisa alguma. Elas apenas parecem. E de acordo com quem olha.

Mas bem, o que é Shunyata?, um pode perguntar-se. Shunyata também atende pelo nome de vacuidade. Que não vem de vaca ou vacuno, mas de vazio. Catei uma definição na internet e a traduzi ao meu bel prazer. Vamos a ela:


SHUNYATA
Segundo o conceito de vacuidade nada existe inerentemente ou "por sua própria conta". Todo fenônemo depende de 3 coisas:

* suas causas
* suas partes
* suas atribuições pela mente de um ser sensorial

A mente sensorial não é uma construção física. A mente é clara e amorfa e tem o poder de perceber fenômenos de uma forma qualitativa, e dar a estes um significado.

Para os budistas todas as coisas são livres de uma definição em essência. Consequentemente todas as coisas não têm uma identidade fixa (existência inerente) e estão em um estado de impermanência - mudança e fluxo - constantemente crescendo e decaindo.

Todas as coisas estão constantemente mudando, e se analisarmos qualquer coisa detalhadamente, veremos que tudo existe puramente por definições comparativas com outras coisas. E é a mente que cria essas definições.


E é isso mesmo. No fim das contas tudo depende do ponto de vista. E da vista do ponto. Pode parecer reducionista, mas depois de alguns volteios lógicos é preciso admitir: Shunyata! Como não havia percebido isso antes?

E então eu percebi que o Shunyata tinha tudo a ver com a minha teoria sobre o surgimento do amor, e mais especificamente sobre o amor verdadeiro. Mas deixemos a teoria sobre o amor verdadeiro para outra hora. Falemos apenas de amor.

Amor é uma coisa tão incrivelmente relativa. A experiência do amor é diferente de acordo com cada um. A definição de amor é diferente. O objetivo do amor é diferente. Sentir o amor é diferente. Viver o amor é diferente.

E então entramos na questão da fatalidade do surgimento do amor mútuo. Este conta com a variante dificultosa do timing. Além de todo o processo de conhecer alguém, gostar desse alguém, estar disponível, esse alguém estar disponível, estar a fim de amar, esse alguém também estar a fim de amar, se identificar, se apaixonar e finalmente amar, tudo isso tem que acontecer com duas pessoas distintas e ainda ao mesmo tempo.

Sempre me pergunto como isso acontece. O que faz duas pessoas se amarem ao mesmo tempo? Exatamente ao mesmo tempo? Posso pensar em algumas hipóteses. Talvez porque amor atrai amor. Ou porque o amor se retroalimenta. Ou quem sabe o amor de um começa antes do amor do outro, e já que o outro não tinha muito o que fazer por esses dias mesmo, o amor do um faz surgir o amor do outro. Se bem que ainda acho que o amor verdadeiro acontece exatamente ao mesmo tempo. Ok, nada de amor verdadeiro por enquanto. Por enquanto.

Bem, parece que o papo está se afastando do Shunyata. Ou não. O Shunyata nunca se afasta. Sempre presente. Sempre inerente. Será que o Shunyata existe inerentemente? Será que ele é a exceção de sua própria regra? Mas ainda assim, pode-se dizer que a experiência do Shunyata é diferente de acordo com quem o experiencia. E isso prova definitivamente que tudo é relativo. E por isso o Shunyata é. Ele apenas é. Inerentemente.

Hummm, acho que estou entrando em looping.

29.8.03

Relapsa

Cinco chibatadas para cada um dos 8 dias sem postar.

21.8.03

Uma história de Amor

Vasculhando as estantes da casa da minha mãe, encontrei o livro que tantas vezes escutei na minha infância: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor. Jorge Amado escreveu-a para seu filho João Jorge em 1948, quando o menino completava um ano de idade. A história ficou perdida até 1976, quando João Jorge "bulindo" em coisas guardadas, finalmente a encontrou. Assim como eu remexendo as estantes da minha mãe.

Pedi permissão e o querido livrinho, já gasto, amarelado, foi direto pra minha bolsa. Encontra-se agora na cabeceira da minha cama. Está novamente sendo lido. Está vivo! Vez que outra o Filippo, meu gato malhado, deita sobre ele e me olha com seus olhos cor de cobre, ignorando a poética redundância de seu ato.

Não consigo conter a vontade de postar um trecho do livro, então transcrevo boa parte dos primeiros parágrafos da introdução. Em que a Manhã conta para o Tempo a história que o Vento lhe contou. A história da história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá. Eis-la.


Madrugada

A Manhã vem chegando devagar, sonolenta; três quartos de hora de atraso, funcionária relapsa. Demora-se entre as nuvens, preguiçosa, abre a custo os olhos sobre o campo, ai que vontade de dormir sem despertador, dormir até não ter mais sono!

(...)

Com um beijo, a Manhã apaga cada estrela enquanto prossegue a caminhada em direção ao horizonte. Semi-adormecida, bocejando, acontece-lhe esquecer algumas sem apagar. Ficam as pobres acesas na claridade, tentando inutilmente brilhar durante o dia, uma tristeza.

Depois a manhã esquenta o Sol, trabalho cansativo, tarefa para gigantes e não para tão delicada rapariga. É necessário soprar as brasas consumidas ao passar da Noite, obter uma primeira, vacilante chama, mantê-la viva até crescer em fogaréu.

Sozinha, a Manhã levaria horas para iluminar o Sol, mas quase sempre o Vento, soprador de fama, vem ajudá-la. Por que o bobo faz questão de dizer que estava passando ali por acaso quando todos sabem não existir tal casualidade e sim propósito deliberado?

Quem não se dá conta da secreta paixão do Vento pela Manhã? Secreta? Anda na boca do mundo.

20.8.03

Frase do Dia

"Eu sei o que eu quero. Mas eu não quero agora, eu quero depois.
E quando o depois chegar, eu vou querer agora".

© all rights reserved

15.8.03

Fetiche e nostalgia

Preciso confessar. Tenho um fetiche por livros. Compro muito mais livros do que consigo ler. Muito mais do que seria possível ler. Não há nada igual a cheiro de livro novo. Quando penso em fazer meu mestrado fora do Brasil, sofro sabendo que vou ter que abandonar todos eles. Os meus livrinhos.

Definitivamente preciso aprender a lição do desapego. Aos livros.

Mas então, ultimamente tenho pensado muito nos livros significativos da minha infância. Nunca tinha feito isso antes. Só pensava nos atuais e futuros, nunca olhando para trás, sempre atrás de novas emoções.

Lembrei do meu livro preferido aos 7 anos: "A Fadinha que Tinha Idéias".

Me identificava tanto com a fadinha. Apesar de não saber que era isso que eu sentia. Só gostava de ler e reler o livro e ter outras idéias que a fadinha ainda não tinha tido. Cheguei a *ser* uma fadinha aos 8 anos, quando era Bandeirante. Aí eu fui atropelada devido à irresponsabilidade das monitoras e os tempos de Bandeirante acabaram. Mas nessa época eu já tinha deixado de ser fadinha e virado B1. (O que será B1? Bruxa nível 1??)

Segundo colocado: "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá" do Jorge Amado.

Meu pai leu esse livro pra mim uma vez no hospital. Não lembro o que eu estava fazendo no hospital, mas devo ter quebrado algum osso. Sempre quebrava alguma coisa. Era uma história linda sobre um amor impossível. Provavelmente a raiz do meu romantismo incurável. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.
*ahhnnn*

E o terceiro livro da lista na verdade são quatro: a coleção da Disney "Uma História por Dia".

Era dividido em quatro tomos, um para cada estação. Tudo bem que as estações estavam "erradas" e que a história do dia do meu aniversário não era tão legal. Eu adorava o livro. Nem precisava me contentar com apenas uma história por dia! Eu lia quantas eu queria. Me sentia A transgressora. Apesar de que provavelmente eu também não tivesse essa noção na época.

Ah, me sinto nostálgica. Muito nostálgica.

14.8.03

Das coisas que não podemos ter

E então você percebe que aquilo que tanto queria não é possível. Ou não parece possível.

"Não, não! Não pode ser. Deve haver algo que eu possa fazer pra conseguí-la! Com certeza deve haver. Só preciso descobrir o que".

Aí entra o dilema. O que fazer?

Depois de um pouco de reflexão estratégica, você vai atrás da coisa.
Você tenta, se escabela, faz fiasco. E nada.

"Sorry dude, not available".

Aí entra o verdadeiro dilema.

"Sou uma covarde se desistir ou uma anta se insistir"?

Consegue perceber o grau de maniqueísmo? De um lado temos covarde. Do outro, anta. É o eixo covarde-anta.

"Mas céus, eu não quero ser uma covarde. Tampouco uma anta".

Próxima etapa: negação. Afinal, the Nile is not just a river in Egypt.

"Pensando bem, eu não queria mesmo. Nem era tão legal assim".

Essa fase não dura muito. É rapidamente seguida pelo inevitável retorno à reflexão estratégica.

"Deve haver algo que eu possa fazer pra conseguir a coisa. Com certeza deve haver. Se ao menos eu pudesse descobrir o que".

Pronto, saí-se do eixo covarde-anta, entra-se no eixo macaco-macaco. Afinal o macaco não sai do lugar. Fica pulando pra cá e pra lá, saltando de um galho pra outro. E sempre pros mesmos galhos, diga-se de passagem.

Uma das saídas possíveis é a auto-comiseração.

"Nunca vou conseguir mesmo. Olhe pra mim, sou uma coitada. Desprovida de condições. Pensando bem, não olhe pra mim..."

É uma fuga temporária do eixo covarde-anta e do conseqüente eixo macaco-macaco. Só resolve quando evolui para a epifania pessoal. E as epifanias são muito libertadoras!

"Ei, eu não sou uma pobre coitada. Olhe pra mim, eu não sou uma pobre coitada! Olhe só pra mim! Pensando bem, eu mereço algo melhor. Muito melhor. Lá vou eu".

E aí se está livre. Livre!

Pelo menos até o próximo dilema. E sempre tem um novo dilema. Mas isso é pra depois.

13.8.03

Sonho peculiar

Sonhei que um hacker maligno tinha entrado no blog e deixado milhares de posts podres falando sobre "peitos". Não eram sobre seios, eram sobre peitos.

Então recebo um vídeo da câmera de segurança que monitora as atividades dos blogs. Ah sim, claro. A fita da segurança. Óbvio.

No vídeo, um vulto digita atrás de um monitor. Fumaça e penumbra em P&B. Uma coisa noir. O vulto levanta e sai. É o hacker. Pior, é o meu hacker! O hacker que fala de peitos.

Jorros de adrenalina.

O hacker retorna com um copo na mão e senta na frente do computador. Me aproximo do monitor pra ver se posso enxergar melhor. O hacker sai de trás do monitor e olha bem nos meus olhos.

Jorros infinitos de adrenalina.

Socorro!

Ele tá olhando pra mim. Ele me viu.

O rosto do hacker é lamentavelmente coberto por uma crosta de espinhas nojentas. Ele tem um olhar empapuçado e pernicioso. Olha bem pra mim e diz:

"O que tu vai fazer agora?
Tá se sentindo impotente"?

Sim! Estou me sentindo impotente. Que sonho peculiar!

Qualquer post sobre peitos nesse blog não é de minha autoria.

Eu-femismo

Loucos com dinheiro são excêntricos.
Neuróticos com senso de humor são peculiares.

12.8.03

Edição Comemorativa de Inauguração

Atendendo às reclamações do único leitor do meu blog, completo em seus 2 posts (até este momento), resolvi tomar vergonha na cara e mudar a cara do blog. Afinal, essa era a minha desculpa para não escrever.

Em meu socorro, Miss Giane Portal ficou até 1 AM fazendo o layout ontem. E isso que é apenas a versão beta! Ou seja, me dei bem. Em breve a versão definitiva, que promete ser ainda melhor do que a atual.

Para completar a força tarefa, mi hermanita Lenara colocou no ar pra mim, já que uma vez que eu larguei da vida de webdesigner bloqueei quaisquer conhecimentos de html. Não libero nem sob hipnose.

Meu muito agradecida para as duas moçoilas generosas por esse ato de doação e um valeu pro Bob Garden pela pressão.

Sem mais delongas. Adeus desculpas.