26.5.04

Pequeno trecho, grande insight

(...)

GUIL: But for God's sake what are we supposed to do!

PLAYER: Relax. Respond. That's what people do. You can't go through life questioning your situation at every turn.

GUIL: But we don't know what's going on, or what to do with ourselves. We don't know how to act.

PLAYER: Act natural. You know why you're here at least.

GUIL: We only know what we're told, and that's little enough. And for all we know it isn't even true.

PLAYER: For all anyone knows nothing is. Everything has to be taken on trust; truth is only that which is taken to be true. It's the currency of living. There may be nothing behind it, but it doesn't make any difference so long as it is honoured. One acts on assumptions. What do you assume?

(...)

Rosencrantz and Guildenstern are dead - Tom Stoppard

20.5.04

Dia 20 - Linha de Chegada

Então a maratona chega ao fim.

Quando planejei escrever um post por dia, há 20 dias atrás, achei que talvez ficasse pelo meio do caminho.

Vamos ver como ficam as coisas a partir de agora. Até.

19.5.04

Dia 18 - Preguiça e trapaça

Cansada de andar pra cá e pra lá, vou trapacear e usar essa formulazinha que achei:

1. Pegue o livro mais próximo de você;
2. Abra o livro na página 23;
3. Ache a quinta frase;
4. Poste o texto em seu blog junto com estas instruções.

........ ........ ........

Estas são as conclusões gerais que foram extraídas da minha imersão na cognição dos xamãs do México antigo. Anos depois da publicação de A Erva do Diabo, percebi que dom Juan havia me oferecido era uma total revolução cognitiva.

A Erva do Diabo - Carlos Castaneda

........ ........ ........

18.5.04

Dia 18 - Finalmente

Me sinto como uma colegial no volta às aulas. Amanhã retomo minha condição de aluna presente.

Estou aqui, organizando cadernos, livros e polígrafos. Separando canetas. Escolhendo a roupa de amanhã. Ao invés de uma maçã para a professora, vou levar um atestado médico. E no lugar de contar como foram as férias, vou contar como foi o acidente.

Vai ser um dia puxado. Aula de manhã e de tarde, almoço no campus. Mas estou muito entusiasmada. Total colegial.

17.5.04

Dia 17 - textinho

Entrou no ar hoje a Trilha Revista Digital (www.trilharevista.com.br) Tem um textinho meu lá em colunistas.

Olhando agora, me pergunto se não soei um tanto fascista. Mas nada que justifique ameaças anônimas. Então, tá valendo.

16.5.04

Dia 16 - Feijão

Eu associo feijão com segurança e isso não é de hoje.

Tudo começou lá pelos 4 anos de idade. Ainda me lembro daqueles almoços, eu sentada sozinha na mesa, olhando pro prato de comida sem conseguir comer. Eu não sabia por que, só sabia que não conseguia comer.

A comida ficando fria e eu ali, olhando pro prato cheio. Minha tia então me dizia: "Lalinha, come três colheradas. Só mais três colheradas."

Era a minha deixa. Eu colocava as três colheradas na boca, saia da mesa e cuspia tudo no lixo. Isso acontecia todos os dias.

Descobriu-se enfim que eu tinha um problema na garganta e isso gerava dificuldades para engolir. Passaram a me dar massa com caldo de feijão e miraculosamente eu podia comer. Oh, que alegria. O meu vínculo eterno com o feijão havia se formado.

20 anos depois, descobri que tinha intolerância a lactose. Fiquei sabendo que precisava cortar leite e todos os seus derivados. Não achei que fosse ser difícil, mas foi. E como foi. Naquela época minha alimentação era basicamente laticínios, uma vez que eu era vegetariana.

Passei os primeiros meses faminta. Não sabia o que comer. Uma dieta vegana, sem carne e sem leite, é algo complicado, principalmente no Rio Grande do Sul. Agravando meu problema, raramente tinha tempo para comer em casa, então precisava me virar pelos restaurantes da vida.

E como eu sofria. Enchia os olhos de lágrimas quando chegava em um restaurante e via que não tinha comida pra mim. O primeiro que tive que abandonar foi o Ocidente, meu favorito na época. Outros tantos seguiram o mesmo caminho.

Me sentia indefesa, me sentia abandonada, me sentia assustada. Então ele veio em meu socorro. O feijão. Sim, novamente o feijão. Se ao passar os olhos pelos pratos eu encontrasse feijão, meus olhos sorriam porque eu sabia que estaria bem alimentada.

Declaro aqui minha gratidão incomensurável para com este grão magnífico. Oh, feijão, não me falte jamais.

Dia 15 - Hiato 2 (expanded and revised)

Lá vou eu pedir penico de novo...

Voltei da aula absurdamente cansada e com uma dor de cabeça que tinha claras pretensões de virar enxaqueca. Dormi literalmente o dia inteiro, com breves interrupções para atender o telefone e tomar tylenol.

Na pequena parcela do dia que fiquei alerta, tive a agradável surpresa de perceber que a turma nova é um amor. Muitos jovens, de áreas diferentes, todos interessados em saber coisas novas.

Também foi minha estréia andando com as muletas, e posso dizer que apesar da falta de domínio total do instrumento, não fui ao chão.

Como última consideração, após 22 horas no reino de Morpheus: nunca mais sentirei sono novamente!!!

Dia 14 - Hiato

As vésperas do início do meu curso, não postei.

A culpa foi total e exclusiva do meu esquecimento. Definitivamente, é hora de voltar a tomar B12.

Peço sinceras desculpas aos senhores do juri, e rogo permissão para continuar a maratona, mesmo sabendo que perdi várias posições.

13.5.04

Dia 13 - ...

Hoje não tem post. Amanhã eu compenso.

Dia 12 - Pérola

Suposições são perigosas. Não acredite em tudo que você pensa.

12.5.04

Dia 11 - Visitas queridas, fisioterapia, Nutella e chá de jasmim

Enfim, o título resume boa parte do dia de hoje.

Somado a tudo isso, hoje chegou mais uma leva de livros lá de casa, minha caixa de material de desenho e terminei de baixar a 4ª temporada de friends.

Happy shiny day. Obrigada a todos que o tornaram assim.

10.5.04

Dia 10 - Filosofia barata a pedido da Lenara

Me chama a atenção como a mente humana é voltada para o conflito. A harmonia nos parece tão enfadonha. Quando tudo vai bem, não há problemas nem emoções fortes, nos sentimos caindo na rotina, entediados.

Uma vez li o blog de uma menina americana chamada Alex. Era tudo tão positivo, tão encorajador e tão sereno. Não havia contraponto, era tudo lindo. Achei estranho.

Como em um filme onde não acontece nada. Os personagens começam bem, continuam bem e depois terminam bem. É chato. Não há crise, nada acontece, nada atrapalha a harmonia de suas vidas, não há chamado à aventura, não há obstáculo a superar, não há nada novo a aprender.

Encaramos a paz, a tranquilidade como algo a ser buscado. É preciso haver luta. Sim, queremos a harmonia, mas ela deve ser conseguida através de muita batalha, muito esforço e muito conflito. Aí sim podemos saboreá-la. Se ela sempre esteve lá, que graça tem?

Algo me diz que as coisas não deveriam ser assim, mas me pergunto se essa não é a única maneira dos humanos aprenderam alguma coisa. Através do conflito. Com os outros, consigo mesmo, com as instituicões, com a natureza. Conflito interpessoal, intrapessoal, transpessoal.

Caso contrário nos acomodamos, não evoluimos, não crescemos, não buscamos nada. Em um filme o conflito dá lugar à resolução, ao final feliz. Mas e na vida, como sabemos quando é o final? Acho meio injusto batalhar a vida inteira para só encontrar a felicidade quando esta acaba. As vezes nem quando acaba.

9.5.04

Dia 9 - Ócio total e irrestrito

E quando eu digo total, I mean it.

8.5.04

Dia 8 - Espera

Esses dias de imobilidade me põem a pensar num velho companheiro, o imediatismo. É sabido que ele é casado com outra velha companheira minha, a ansiedade.

Uma vez, quando fazia terapia, a psicóloga me perguntou:

- Ivana, se tu puder escolher, o que tu prefere, um sonho de valsa agora ou dois daqui a meia hora?

No que eu respondi:

- O que, tu tem um sonho de valsa? Passa ele pra cá!

A lição mais dura pra mim é aprender a esperar. Quero tudo pra agora. Pra ontem não me serve, porque ontem já passou. E se não tenho agora, ou a menos daqui a bem pouquinho, me frustro. Houve épocas em que sentia a onipresença de um enorme relógio na minha cabeça fazendo "tic tac, tic tac". Estou perdendo tempo, pensava.

A terapia me ensinou que tudo tem sua hora e que é preciso dar um passo de cada vez, subir um degrau de cada vez. Beleza, já entendi isso, mas continuo não gostando de esperar.

Neste exato momento, queria poder dobrar o tempo-espaço e ir parar 30 dias no futuro. Alguém aí sabe como?

7.5.04

Dia 7 - Chuva

Essa chuvinha mansa embalou meu dia. Sempre achei que o barulho da chuva tem um efeito tranquilizante.

Enfim, perfeita para o dia de hoje.

6.5.04

Dia 6 - Boas e más notícias

Primeira a boa: não rompi os ligamentos, apenas lesionei.

Agora a má: fraturei o fêmur.

Saldo da brincadeira: 30 dias com a perna imobilizada.

Vou aproveitar as férias forçadas para ler e gastar horrores de conta telefônica. Visitas serão apreciadas sem moderação.

5.5.04

Dia 5 - Quarta-feira bacana

Exame de ressonância magnética no hospital e exame de corpo delito na polícia.

Ai, ai.

Recomendo olhar para os lados ao passar por cruzamentos. Especialmente se a preferencial for tua.

4.5.04

Dia 4 - Relato

Começo o relato do acidente de carro dizendo que esse foi o episódio mais violento da minha vida. É certo que existem coisas muito mais violentas do que essa batida, mas eu nunca vivenciei nenhuma.

É uma sensação mista, de impacto físico e psicológico. Além da dor que senti, tive que lidar com o sentimento de impotência. Sabia que o acidente era inevitável, nada do que eu fizesse impediria aquele carro em altíssima velocidade de bater em mim, mas não consegui deixar de me perguntar "o que eu faço agora?"

Gritei algo tipo "oh, não', quando percebi que o carro não ia frear, seguido de 3 "ai, meu Deus", um pra cada impacto. Um "ai, meu Deus" quando o carro bateu na minha lateral, outro quando meu carro subiu na calçada e bateu num canteiro de cimento e o derradeiro quando bati no muro.

Depois de sair do carro e ver que o amigo que estava comigo estava bem, uma enxurrada de pensamentos me invadiu.

Ao constatar o lamentável estado de destruição total do meu carro pensei: puta merda, não posso dar undo. Já havia pensado isso algumas vezes depois de dizer algo na hora errada, ou fazer uma escolha que se revelou desastrosa. Mas nunca lamentei tanto a inexistência do control+z. (no meu caso command+z)

Depois fui tomada por uma súbita raiva e me virei pra moça de bolsa Louis Vitton parada na minha frente e falei ríspida: que raios tu tava pensando??? Ela parecia muito abalada e respondeu que não sabia e a culpa era toda dela. Isso me desarmou. Me fez ter pena dela. Afinal ela era responsável por tudo aquilo, e definitivamente também não tinha o poder do undo.

Logo após me dei conta de que *eu* era responsável pelo meu amigo e dei graças aos céus que ele estava bem. Mesmo que a culpa real fosse da mulher, eu estava dirigindo o carro.

Percebi em seguida que as minhas pernas doiam muito, e pedi pra sentar.

Sentada, enquanto aguardava a brigada chegar me envolvi em outro tipo de questionamento, do tipo "e se". E se a minha reunião tivesse terminado um pouco mais tarde o acidente teria acontecido? E se eu tivesse demorado mais a sair ela teria me acertado? E se eu não tivesse passado em casa pra pegar enzimas, teria sido igual? E se eu tivesse apenas demorado mais pra pegar as enzimas, como seria?

E se eu tivesse dobrado na Botafogo ao invés de seguir na Múcio, teria encontrado com a moça de bolsa Louis Vitton no cruzamento? E se eu tivesse tido tempo de frear? E se o sinal da esquina anterior estivesse aberto e não fechado? E se eu tivesse ficado em casa naquela segunda chuvosa? E se, e se, e se. Existe destino? Eu estava fadada a sofrer esse acidente? Não sei.

O que me irrita agora, que estou com a perna imobilizada da coxa até o tornozelo é que isso é um fator incrivelmente limitador. Sei que poderia ter sido muito pior e talvez eu não estivesse aqui pra fazer esse relato. Mas ainda assim vou perder muitas aulas no mestrado, tive que adiar um dos cursos de roteiro e o outro pode seguir o mesmo caminho. Tenho que ficar deitada com a perna esticada o dia inteiro e tudo o que eu quero fazer tenho que pedir para os outros fazerem por mim. Mas again, estou viva.

Meu último pensamento ontem antes de dormir foi que realmente, assim como é mostrado nos filmes, em situações traumáticas o tempo se modifica, fica elástico. As coisas ficam um pouco mais lentas, se percebe os movimentos de forma diferente, as cores e texturas ficam ligeiramente alteradas. Mas não exatamente como nos filmes.

Não é um slow motion total, é apenas um pouco mais lento, tipo 1/5 ou 1/6 da velocidade normal. Pelo menos comigo foi assim. E esse pequeno filminho que criei na minha cabeça ficou se repetindo ao longo do dia, e a cada exibição ele se modificava um pouquinho, somando ou subtraindo elementos. Mas a qualidade emocional, essa permanece a mesma. Afinal, foi o episódio mais violento da minha vida.

Dia 3 - Sofri um acidente

Ok, ok, tecnicamente hoje já é o dia 4, mas eu gastei as últimas horas do dia 3 vendo uma louca a alta velocidade destruir meu carro, fazendo ocorrência, indo ao hospital e gemendo de dor .

Portanto, acho que um atrasinho agora não me desclassifica na maratona.

Mais info no dia 4. Não estou exatamente no mood agora.

2.5.04

Dia 2 - When enough is enough?

Sabe aquelas situações arrastadas, continuadas, que parecem não ter fim? Tipo doenças crônicas, conflitos eternos, dores que não vão embora, padrões sentimentais que se repetem ad nauseum.

Convivi mais de 6 meses com uma tensão muscular incessante que atendia pelo nome de fibromialgia. Sentia dores nos ombros e pescoço diariamente, o tempo todo. As bolsas de água quente se tornaram minhas melhores amigas e eu fazia fisioterapia 5 dias por semana.

Fora isso, tomava os atrozes relaxantes musculares que faziam eu me sentir como um zumbi de 200 quilos. E dê-lhe exame, e dê-lhe pesquisar na internet, e dê-lhe massagem, e dê-lhe terapia, e dê-lhe gastar dinheiro e tempo e nada da fibromialgia me largar.

Até quando se aguenta algo que machuca? Pode-se dizer: estou cansada, agora chega, não aguento mais. Mas se a coisa em questão continua é porque ainda se aguenta um pouquinho mais. Eu reclamava, me escabelava, as vezes chorava, mas seguia levando.

Então eu resolvi largá-la.

Um dia eu disse CHEGA. Mas um chega de coração, daqueles passionais e homicidas. E a dor se foi. Deve ter se assustado. Junto com ela foi um monte de coisas que me faziam infeliz. Foi uma liberação! Simples assim.

De onde concluí que não basta apenas querer se liberar, é preciso desejar ardententemente com todos os átomos do seu ser. Quando realmente não se aguenta mais, há um "cessamento".

E aí, a liberação acontece. When enough is enough.

1.5.04

Dia 1 - Das maravilhas do leite de soja

Em 1999 descobri ser portadora de uma deficência física. Sou intolerante à lactose. Isso significa que não posso digerir leite e todos os seus derivados. E quando eu digo todos, eu quero dizer realmente todos. Sorvete, chocolate, queijo, creme de leite...

A primeira coisa que fiz foi levantar os olhos aos céus e perguntar: Por que? Por que? Oh, Deus, por que???

Ao que tudo indica, meu pai teve intolerância à lactose na infância. Reza a lenda que ele sofreu um "fartão" de queijo e se "curou" tomando leite de cabra, conhecidamente lactose free.

Comprei o leite de cabra e odiei. Realmente odiei.

Deixei-o na geladeira, e minha mãe ficou com pena de ver o leite estragar. Tomou o renegado e instantaneamente o inchaço que ela vinha sentindo há mais de 2 décadas desapareceu. Oh, então minha mãe também tem intolerância à lactose!

O que parece um mero acaso faz muito sentido dentro da lógica cruel da loteria genética. Meu pai e minha mãe tem olhos verdes e dos seus quatro filhos eu sou a única de olhos verdes. Então se os dois têm intolerância à lactose, nada mais justo do que eu ser a única a receber esta herança também.

É, uma compensação cósmica da qual meus irmãos devem dar muita risada. Quer olho verde? Então toma uma intolerância à lactose aí.

Como não curti o leite de cabra, minha alternativa foi tentar o leite de soja. E foi aí que minha vida mudou. Me apaixonei perdidamente. Torrencialmente. Hoje em dia não trocaria-o por leite de vaca nem se a minha vida dependesse disso.

Ele vem da soja, ele é gostoso, ele é cheiroso, ele é fonte de vitaminas A e D, ele tem gostinho de baunilha, ele é livre de colesterol, ele não tem adição de açúcar, ele fica ótimo com Nescau, ele é fantástico com granola, ele fica magnífico no bolo, ele tem apenas 60 calorias!

E o melhor ainda estar para ser dito: uma xícara de leite de soja com Nescau me sacia completamente por 4 horas inteiras! "No mister, I need no more. I'm alrighty here". Fora um almoço completo, com arroz, feijão, carne e salada, que outra coisa tem esse poder?

Por isso vos digo, conhecei os encantos do leite de soja e vossa vida se transformará!

Maratona blog.ivenka

Instigada por amigos caríssimos, que escrevem 20 posts por dia, ao contrário de mim que escrevo um a cada 20 dias, resolvi instituir a maratona blog.ivenka.

As regras são simples. Esta Ivenka que vos escreve deverá escrever algo todo dia durante 20 dias, e este algo deverá ter um mínimo de 20 caracteres.

No caso de descumprimento das regras supracitadas, estarei condenada a nunca mais falar comigo. E aconselho a todos a fazerem o mesmo.

Estão abertos os trabalhos.