22.3.04

Matrícula

Passei 6 anos me matriculando na Fabico todos os semestres. A melhor expressão pra descrever essa experiência é "Inferno na Terra".

Cadeiras que apareciam sem nota, ou que desapareciam sem deixar rastro, opcionais estouradas, filas enormes, dedo no olho, os inevitáveis pedidos de quebra de pré-requisitos e assemelhados repetiam-se exaustivamente, sem o mínimo pudor.

Ainda marcada por todos esses anos de abuso, fui fazer minha matrícula no mestrado. Enquanto esperava a minha vez na pequenina fila (será que vim no dia certo???), tremia levemente.

A porta se abriu e a coordenadora chamou o próximo. Ei, eu sou a próxima! Uma gotinha de suor escorreu pelo canto do meu rosto e hesitei por um segundo. Então me leventei, determinada. Que venga el toro! Mas que sea paralitico!!!

Quando entrei na salinha um portal se abriu e todo o universo conspirou a meu favor. Seres angelicais feitos de pura luz sussurraram ao meu ouvido algo que poderia ser toscamente traduzido por "não tema mais, doce Ivana, peça e serás atendida".

Bliss! Oh, such great bliss!

Havia vagas em todas as cadeiras, e eu não só podia, como devia escolher as que mais me interessavam! A coordenadora me ajudou a preencher o formulário com um sorriso, levei a folhinha até a secretaria e pronto, estava matriculada. Assim, no mais.

Enquanto voltava pra casa, sorria comigo mesma.

12.3.04

Autógrafo

Então o mais bizarro e inusitado fato a ser imaginado aconteceu: a caixa do supermercado me pediu um autógrafo. (!!!!) E eu surtei e me recusei. (????)

Ainda tô tentando entender o que aconteceu. Ela perguntou se eu era "artista", eu disse baixinho que fazia cinema. Ela chamou todas as amigas que estavam na volta, apontou pra mim e disse "ela é artista, ela faz cinema"! Eu gelei e suei, pensei em sair correndo e deixar as compras. E aí ela disse que me viu na televisão e pediu o famigerado autógrafo. Ela nem sabia o meu nome, mas queria um autógrafo.

Ok, isso é fútil e medíocre, mas apenas um reflexo da nossa sociedade voltada para a fama, e o desejo de ser elevado da rotina sufocante das nossas vidas pequenas custe o que custar. E pra ela, ter um rabisco feito por alguém que apareceu alguns segundos na TV talvez já seja um começo. Não era motivo pro pânico que eu senti.

Mas então, por que o pânico?

Tenho problemas com esse assunto de "fama", isso é fato. Acho que o valor das pessoas não se mede por prêmios, por quem ela conhece, por quanto ganha, por quantas vezes apareceu na coluna social ou na TV. Me revolto com o esvaziamento de tudo o que é verdadeiramente humano: o conhecimento, o amor, o senso de comunidade, o caráter. Viramos todos macaquinhos atrás da banana da fama.

Mas confesso que não é só isso. Me assusto quando alguém que eu não conheço me conhece. Me sinto indefesa, me sinto exposta. Isso me fez pensar que talvez pessoas que eu não conheço leiam o que eu escrevo e me vejam fazendo caretas no fotolog. E isso é muito muito muito spooky.

Nós voluntariamente nos despimos na frente de desconhecidos, estendemos as entranhas em cima da mesa pra quem quiser ver. E por que? Auto expressão? Talvez. Exibicionismo? Mais provável. Talvez na expectativa de que aqueles que nos conheçam aprendam a nos conhecer mais um pouco.

E se isso me assusta, faço o que? Deleto blogs, fotologs, carreira? Acho que não. Vou ter que lidar com as minhas fobias. E pedir desculpas à menina do supermercado. Que não deve ter entendido nada. Assim como eu.