14.8.03

Das coisas que não podemos ter

E então você percebe que aquilo que tanto queria não é possível. Ou não parece possível.

"Não, não! Não pode ser. Deve haver algo que eu possa fazer pra conseguí-la! Com certeza deve haver. Só preciso descobrir o que".

Aí entra o dilema. O que fazer?

Depois de um pouco de reflexão estratégica, você vai atrás da coisa.
Você tenta, se escabela, faz fiasco. E nada.

"Sorry dude, not available".

Aí entra o verdadeiro dilema.

"Sou uma covarde se desistir ou uma anta se insistir"?

Consegue perceber o grau de maniqueísmo? De um lado temos covarde. Do outro, anta. É o eixo covarde-anta.

"Mas céus, eu não quero ser uma covarde. Tampouco uma anta".

Próxima etapa: negação. Afinal, the Nile is not just a river in Egypt.

"Pensando bem, eu não queria mesmo. Nem era tão legal assim".

Essa fase não dura muito. É rapidamente seguida pelo inevitável retorno à reflexão estratégica.

"Deve haver algo que eu possa fazer pra conseguir a coisa. Com certeza deve haver. Se ao menos eu pudesse descobrir o que".

Pronto, saí-se do eixo covarde-anta, entra-se no eixo macaco-macaco. Afinal o macaco não sai do lugar. Fica pulando pra cá e pra lá, saltando de um galho pra outro. E sempre pros mesmos galhos, diga-se de passagem.

Uma das saídas possíveis é a auto-comiseração.

"Nunca vou conseguir mesmo. Olhe pra mim, sou uma coitada. Desprovida de condições. Pensando bem, não olhe pra mim..."

É uma fuga temporária do eixo covarde-anta e do conseqüente eixo macaco-macaco. Só resolve quando evolui para a epifania pessoal. E as epifanias são muito libertadoras!

"Ei, eu não sou uma pobre coitada. Olhe pra mim, eu não sou uma pobre coitada! Olhe só pra mim! Pensando bem, eu mereço algo melhor. Muito melhor. Lá vou eu".

E aí se está livre. Livre!

Pelo menos até o próximo dilema. E sempre tem um novo dilema. Mas isso é pra depois.