27.2.04

Akhenaton

Por vezes, interrogo-me sobre a origem de nossa preguiça. O professor Jacques Sternberg, da Universidade Católica de Louvain, antropólogo, zoólogo e teólogo de reputação mundial, adianta uma hipótese interessante.

Segundo ele, Deus teria criado o gato à sua imagem. O gato fez-se, portanto, preguiçoso, visto que Deus, todo-poderoso não necessitara fatigar-se para criar o universo. Não querendo o gato fazer nada, criou Deus o homem para o servir.

Ao gato Ele dera suas qualidades: indolência, lucidez, sistema sensorial sofisticado; ao homem Ele deu neurose, dom da bricolagem, paixão pelo trabalho e vaidade.

Graças a tais qualidades subsidiárias, o homem, ao longo dos séculos, edificou uma série de civilizações baseadas na invenção, na produção, no consumo intensivo, as quais edificaram-se, combateram-se, destruiram-se todas uma à outra mas assumiram, apesar de suas impiedosas e sangrentas lutas, a missão de que haviam sido investidas pela potência divina: oferecer ao gato o conforto, a toca e a coberta.


Extraído de "Akhenaton: a história do homem contada por um gato". Traduzido do Siamês por Gérard Vincent.