7.9.03

Madonna e Aceitação

Quem não quer ser aceito? Ser aceito pela sociedade, pela família, por aqueles a quem se ama, pelo mercado profissional e tudo mais. Eu quero. Aceitação é aquela palavra que faz o coração serenar. Ao mesmo tempo, ser aceito é uma batalha.

Me parece que o caminho da aceitação passa necessariamente pela auto-aceitação. Apesar de o mais comum seja fazer o caminho inverso: se os outros me aceitarem quer dizer que eu sou legal e se eu sou legal então eu posso me aceitar. Mas se eu não me aceito, justo eu que me conheço a fundo, como os outros vão me aceitar? Se eu não me aceito, é porque tem algo de ruim e inaceitável em mim. Ou seja, não vou ser aceito e ponto.

Uma coisa que me incomoda são os termos da aceitação. Não acho que uma pessoa deve ser aceita "apesar do que é", mas simplesmente "pelo que é". Exatamente pelo que ela é. Com seus erros e acertos, força e fraqueza, virtudes e falhas, alegrias e tristezas.

Isso não significa que eu acho que deve-se acomodar-se com o clássico "eu sou assim, não vou mudar, quem quiser que goste de mim". Até por que a auto-transformação constante é essencial e só se transforma aquilo que se aceita, que se percebe.

Mas voltando, soma-se a isso o fato de que no ocidente valoriza-se o TER ao invés do SER. O ser é visto através do que se tem ou o que se faz. Aquela coisa, você conhece alguém novo, a conversa inicia assim: - "Oi, eu sou Fulano." - "Oi Fulano, o que você faz?"

O que uma pessoa faz, ou fez, é a primeira informação que temos para julgar quem ela é. E se temos interesse que ela seja qualquer coisa perto de nós.

Então eu penso na questão da Madonna. Ah sim, diriam aqueles intrigados com o título, estava me perguntando onde a Madonna entraria nessa história. Pois bem, ela entra aqui. Veja bem...

A Madonna provavelmente sempre foi a Madonna. A mesma pessoa. Em essência, pelo menos. Ela sempre carregou A MADONNA dentro de si. Mesmo quando ela não era famosa e as pessoas a conheciam apenas por seu nome de batismo. Mas as pessoas não a olhavam como A Madonna. Ela era uma pessoinha qualquer.

Ai da Madonna, se tentasse entrar em uma mega festa vip, ou qualquer outro evento exclusivista, um ano (ou até mesmo um mês) antes de ficar famosa e conhecida pelo que ela *faz*. Apesar de *ser* a mesma pessoa. Ela seria barrada na porta. Seria barrada e não poderia por as mãos da cintura e dizer:

"Escuta aqui queridinha, você sabe com quem tá falando? Você sabe quem eu vou ser??"

Não, ela não poderia. Por que ela ainda não era. Só depois de fazer sucesso ela seria. E isso é o que me revolta. Ela já era a Madonna, mas aos olhos dos incautos ela não era a Madonna. Ela era uma pessoinha qualquer. A mesma pessoinha que um tempo depois faria a "queridinha" desmaiar de emoção se a Madonna falasse com ela. Ou apenas olhasse pra ela. "Ai meu Deus, a Madonna olhou pra mim, ela olhou pra mim."

Sim, ela olhou pra ti, e provavelmente não gostou do que viu...

Por essas e outras que toda esse fuss a respeito de fama me revolta. E muito. Talvez eu precise praticar a aceitação.